sexta-feira, 31 de julho de 2009

Breve Histórico

Atendendo a pedidos, escrevemos um breve histórico sobre a construção da casa:

Desde que a nossa moradia virou “notícia” na cidade, algumas perguntas tornaram-se recorrentes: “De quem foi (ou de onde veio) a idéia de construir uma casa ecológica? Por que uma casa ecológica? Quanto custou a mais do que uma casa tradicional?”
A resposta à primeira pergunta acabou por perder-se no tempo e na confusão das idéias entre duas almas (minha esposa e eu) que tinham em mente o mesmo objetivo: viver bem, numa casa própria e personalizada, com conforto, saúde e integrada ao ambiente. Ecológica? Sim! E sustentável também. Permacultural, com certeza.
Num dia frio e ensolarado de junho de 2006 encontramos um local lindo, desmembrado de uma propriedade maior chamada Sítio Gralha Azul. Estava à venda. O terreno fica na encosta superior de um morro, numa altitude de mais de 900 metros acima do nível do mar, cercado de mata nativa por todos os lados. Apaixonamos-nos imediatamente.
Acertada a compra, demos início aos estudos climáticos para a instalação da moradia. Todos os dias, durante um ano, fomos até o terreno observar o regime de ventos, o trajeto solar, a direção da chuva, a temperatura, entre outros fatores. Assim, tivemos uma idéia consistente de onde e como construir a moradia.
Ao mesmo tempo, começamos a buscar materiais para a construção. Ainda não tínhamos o projeto arquitetônico, mas certas coisas são absolutamente necessárias como tijolos, telhas, madeira para o telhado, portas, janelas, etc. Visitávamos ferros-velhos, lixões e locais de demolições. Ficávamos atentos a qualquer caçamba de recolhe-entulho estacionada nas ruas da cidade. Por várias vezes flagramos as pessoas nos olhando espantadas enquanto pulávamos para dentro das caçambas em busca de tijolos maciços e outros itens que poderiam ser úteis...
Compramos (a um preço excelente) e demolimos um galpão antigo que forneceu toda a madeira para o telhado, para a estrutura da casa e para algumas paredes, com sobra. Deu até para fazer alguns móveis.
Um dia, estávamos passeando na avenida principal da cidade quando vimos obras no antigo cinema Luz. O prédio estava fechado há anos. Em 2004, quando cheguei à Caçador, o cinema já estava desativado. Pensamos alegremente que um novo cinema iria abrir as portas, proporcionando mais uma alternativa de cultura à comunidade. Ledo engano... seria uma loja de departamentos. Apesar da tristeza nos corações, resolvemos dar uma olhada mais de perto e surpresa! Conseguimos adquirir por um preço módico mais algumas centenas de tijolos e uma pérola: cerca de duzentos metros quadrados do assoalho original que estava sendo retirado. Réguas de madeiras nobres em muito bom estado de conservação. Agora temos um belo pedaço da história de Caçador em nossa sala de estar.
Assim, um ano se passou. Conseguimos reunir dez mil tijolos maciços, uma boa quantidade de peças e cacos de cerâmica, mármores, granitos e outras pedras interessantes para mosaicos, além de portas, janelas e outras peças que posteriormente se revelaram bastante úteis.
O ano de 2007 foi marcado por duas características e um evento. A primeira foi o desenvolvimento dos projetos, com a contratação da arquiteta e do engenheiro responsáveis pela obra. Depois de várias entrevistas com vários profissionais, encontramos, especialmente na pessoa da arquiteta Claudia Caramori, resposta ao nosso desafio de construir uma casa ecológica. Com grande habilidade, ela conseguiu dar contorno e forma à nossa idéia de moradia. Enquanto o projeto arquitetônico se consolidava, realizamos vários cursos. O primeiro foi em maio de 2007, em São Paulo. Tratava sobre materiais sustentáveis. Em julho, a Kátia foi para Pirenópois/GO aprender sobre bioconstrução no Instituto de Permacultura do Cerrado, o IPEC. Foram quase duas semanas de curso, num lugar distante, mas com retorno premiado duplamente: muito conhecimento a ser posto em prática e a concepção do nosso filho Luciano. Agora, mais um motivo para esmero e determinação: estava chegando o nosso herdeiro! Em setembro do mesmo ano fomos para Bagé/RS realizar o curso de Design e Consultoria em Permacultura no Instituto de Permacultura da Pampa, o IPEP.
Retornamos do Rio Grande do Sul a todo o vapor. O projeto arquitetônico estava pronto e então pudemos contratar o empreiteiro e dar início às obras. Era dia 21 de outubro de 2007. Por incrível que pareça, choveu um mês quase sem parar. Ficamos preocupados já que o seu Sebastião, o empreiteiro, prometeu que terminaria a casa em seis meses... logo de cara perdemos um mês para o mau tempo. Rapidamente aprendemos que paciência e perseverança andam de mãos dadas e são totalmente indispensáveis.
Os meses foram passando e a casa foi tomando forma. Íamos todos os dias à obra, trabalhávamos bastante decidindo detalhes, orientando procedimentos, escolhendo peças especiais e separando materiais.
Com paciência e jogo de cintura conseguimos vencer a desconfiança inicial dos operários, ensinamos algumas técnicas construtivas e confeccionamos os tijolos de adobe, a parede de superadobe e a cisterna de ferrocimento.
Suspeitávamos, desde o início, que o prazo para o final da obra sugerido pelo empreiteiro não iria ser cumprido. Dito e feito. Nem podemos afirmar que a culpa é dele, ou da chuva, etc. Uma moradia personalizada como a nossa demanda mais tempo. Aliás, muitas coisas ainda estão por fazer, acabamentos que nós mesmos queremos finalizar como mosaicos, entalhes, luminárias, móveis de madeira, pinturas e texturas. Assim, quando o prazo se esgotou, em agosto, estabelecemos o dia 21 de outubro de 2008 para a mudança, independentemente do estado de finalização da casa. Por coincidência, choveu no dia 21 de outubro... então, mudamos no dia 24 de outubro de 2008! Enfim, casa nova!
Hoje, nove meses depois, a casa ainda está em construção. Mesmo assim tem chamado muita atenção das pessoas e imprensa local. Já demos várias entrevistas. Muitos estudantes, algumas autoridades e vários curiosos vieram conhecer a casa.
Temos muito prazer em receber as pessoas e falar sobre nossa experiência. Estamos em fase de estudos para abrir um negócio na área de artesanatos e habitações sustentáveis para obter algum apoio financeiro para concluirmos esse nosso projeto de vida.

2 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Eu conheço a casa... show! Parabens pela dedicação e compromisso com o Meio Ambiente!